As mulheres sempre sonharam com uma maneira simples e fácil de cuidar da beleza. A ideia de uma fórmula mágica, que impacta na aparência, está presente nas mais diferentes culturas e épocas. Uma das lendas mais conhecidas é a da fonte da juventude. Na Idade Média, ela se disseminou de tal forma na Europa que Cristóvão Colombo foi incumbido pela realeza de tentar encontrá-la na América. Mas o que até pouco tempo parecia só fazer parte do mundo da ficção começou a surgir nas prateleiras das redes de farmácia da vida real. De 2008 para cá, produtos que asseguram em suas embalagens combater todo tipo de problema estético — rugas, celulite, gordura localizada, cabelo sem volume — não param de ganhar espaço no mercado.
Não há dúvida de que as promessas são tentadoras. Mas esses remédios realmente funcionam? Têm efeitos colaterais? Qual a diferença dessas cápsulas para os suplementos? Para responder a essas e outras questões, Marie Claire conversou com experts no assunto.
Pílulas resolvem quando aliadas a outros cuidados
A precursora das pílulas de beleza
Uma nutricionista francesa chamada Marie Béjot pregava que a alimentação e a suplementação eram importantíssimas para a beleza. Em 1985, ela fundou a Oenobiol e lançou uma cápsula que prometia melhorar a hidratação da pele. Atualmente, a Oenobiol está presente em mais de 20 países e vende uma variedade de pílulas: para afinar as coxas, reduzir olheiras, emagrecer.
Aqui no Brasil não são encontrados produtos dessa marca e as opções são menores do que na Europa ou na América do Norte. A entrada dessas pílulas é dificultada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que em alguns casos exige testes extras de eficácia — pagos e feitos em instituições indicadas pela agência —, além daqueles feitos no exterior, e determina que cada componente da fórmula não ultrapasse a Ingestão Diária Recomendada (IDR). O índice determina a quantidade de vitaminas e minerais que uma pessoa deve ingerir diariamente.
“Muitas das cápsulas comercializadas lá fora extrapolam os valores de IDR brasileiros e só conseguiriam chegar às farmácias nacionais se mudassem a formulação (o que às vezes acontece) ou fossem incluídas na categoria de medicamentos”, explica o cosmetólogo Maurício Pupo. “Para muitos nutrientes, a IDR é tão baixa que não corrige deficiências e não produz efeitos benéficos no organismo.” É curioso. A Anvisa estabelece um nível mais alto de rigor que a Colipa ou a FDA, órgãos responsáveis pela fiscalização de cosméticos na Europa e nos Estados Unidos, respectivamente. A exigência para requerer o registro é tão grande que muitas marcas desistem de entrar no país ou, quando conseguem, seus produtos chegam com atraso em relação à Europa, aos Estados Unidos e até à Argentina.
Mesmo com essa marcação, o mercado de nutricosméticos é um sucesso no Brasil. Embora alguns itens já se encaixassem nessa denominação antes de 2008, foi naquele ano que o segmento se expandiu, motivado pela chegada do Innéov Fermeté. A marca Innéov foi lançada na Europa em 2002, quando a L’Oréal e a Nestlé se uniram para desenvolver pílulas. A primeira a chegar aqui foi a Fermeté, com a promessa de atenuar rugas. Em seis meses, o Brasil se tornou o maior consumidor mundial do produto.
Como elas agem e funcionam
São chamados nutricosméticos produtos de uso oral ricos em nutrientes, especialmente antioxidantes, e que se baseiam no conceito de beleza de dentro para fora. Embora a Anvisa não reconheça esse termo e classifique as pílulas como suplementos alimentares, ele é muito usado por profissionais da área e mesmo por consumidores. Vitaminas, minerais, óleos, proteínas e extratos são algumas das substâncias que compõem os nutricosméticos. “Todos os componentes devem ser derivados de alimentos, caso contrário o produto passa a ser considerado medicamento”, diz Maurício Pupo. A composição também é o que diferencia essas pílulas daqueles suplementos mais antigos, que traziam o nome da substância em destaque na embalagem, como betacaroteno ou colágeno.
A fórmula dos nutricosméticos combina não apenas um, mas uma série de substâncias benéficas para uma determinada parte do corpo. Eles agem repondo algum elemento que esteja em falta no organismo ou ainda de forma preventiva. É o caso das cápsulas indicadas para tratar rugas. Ricas em antioxidantes, elas prometem melhorar a pele e combater novas linhas.
Para a dermatologista Denise Steiner, de São Paulo, o surgimento desses produtos está ligado às novas demandas da vida moderna, mais estressante e atribulada do que há 20 anos. “Muitas pessoas não conseguem suprir a necessidade de vitaminas e minerais apenas por meio da alimentação e precisam de suplementação”, diz. Além disso, o ar está mais poluído, a vida corrida, e as refeições com muitos itens industrializados. Tudo isso contribui para que o organismo fabrique mais radicais livres e acelere o processo de envelhecimento. “O consumo de açúcar, que hoje é alto, é outro agravante”, afirma Maurício Pupo. “Tanto o branco quanto o mascavo estimulam a glicosilação, processo que destrói o colágeno e a elastina e favorece o surgimento de rugas.”
A melhor forma de se consumir açúcar de maneira saudável é por meio dos cereais integrais e das frutas.
Pesquisas só de laboratório
Para quem se identificou com o estilo de vida contemporâneo, as pílulas de beleza são boas aliadas. No entanto, diferentemente da fonte da juventude, elas não fazem milagre. “É uma ajuda”, diz Denise Steiner. “Mas não dá para dispensar dieta equilibrada, exercícios, cremes e protetor solar.” O argumento daqueles que encaram a novidade com desconfiança é de que não há pesquisas independentes que comprovem a eficácia desses produtos, apenas estudos feitos pelos fabricantes.
Embora a ciência não ofereça 100% de segurança, os consumidores aprovam os nutricosméticos. Na Europa, o setor movimenta cerca de 3 bilhões de euros. De acordo com a L’Oréal, em quatro anos o mercado brasileiro triplicou. Em 2008, um em cada dois dermatologistas receitava esse tipo de produto. Hoje, 77% dos profissionais o prescrevem.
Antes de incluir as cápsulas na sua rotina de beleza, é importante procurar um dermatologista ou nutricionista. As contraindicações são raras, mas há fatores a serem levados em conta. Se outro médico receitou suplementos, por exemplo, você pode acabar sofrendo com excesso de algum nutriente. “É preciso também analisar a raiz do problema. Se um paciente com algum distúrbio que leva à perda do cabelo toma uma pílula de beleza para remediar, não vai notar diferença, pois não estará combatendo a doença”, afirma Denise Steiner. Denise Steiner (CRM 36505)
Fonte: Marie Claire
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