E você há de convir comigo que quando se trata de namorar, é diferente! É mais fácil! É fluido, leve, receptivo. Namoro de verdade, como tão bem poetizou Carlos Drummond de Andrade, tem a ver com fazer pactos com a felicidade, por muitas vias, de várias formas, mas todas tão simples, tão simples, que quase nos esquecemos! Se você ainda não leu o poema de Drummond sobre ter ou não ter namorado, faça isso ainda hoje!
Quando comecei a pensar sobre esse tema "namorar", me veio uma frase que ouvi essa semana num contexto completamente adverso. Estava assistindo a um documentário sobre a loucura. Loucura mesmo, de doença, internação, medicamento e psiquiatria. E me comovi demais ao ouvir um suposto doente mental dizendo ao repórter que "loucura é quando a gente não vê o outro"!
"Meu Deus!", eu pensei! "Será que temos confundido tão deliberadamente a diferença entre loucura e sabedoria?"! Loucura é não ver o outro, claro! E foi o suposto louco quem disse isso ao suposto normal! E me veio agora: sabe qual é o momento, talvez o único momento em que realmente vemos o outro? No exato instante em que nos rendemos e o namoramos.
Repare! Observe e me diga se não tenho razão! Ver o outro não tem exatamente a ver com paixão, porque ela é projeção, é quase uma dor! Não tem tanto a ver com amor, porque costumamos entendê-lo mais como um compromisso, quase sério. Mas namoro, não! Quando você sai para namorar, você vai à busca do que o outro tem de mais belo, e disposto a mostrar o que você tem de melhor. Você olha o outro querendo realizar seus sonhos, fazê-lo feliz, da forma mais genuína e profunda que a felicidade pode ser feita!
Tem a ver com olhos nos olhos, prestar atenção no que ele diz, estar atento ao que o outro quer. Tem a ver com paciência amorosa, com ceder carinhosamente, só para ter o privilegio de presenciar seu sorriso. Namoro é feito de risada, espontaneidade, humanidade. É feito de tempo sem ponteiros...
Namorar é ganhar o dia de presente para o outro. É transformar a vida num passeio de balão. É, eu sei, não dá para fazer isso o tempo todo. Mas dá, sim, pode apostar, para fazer isso bem mais vezes do que temos feito! Por isso, hoje não quero te sugerir nada! Quero te desafiar! Isso mesmo!
Duvido você parar com essa maluquice de não ver o outro! Duvido você "pensar fora da caixa"! Em primeiro lugar, pare de acreditar que você só pode namorar quem você beija na boca. Sim, é obvio que você não só pode, como deve namorar mais quem você dorme, quem você casou, quem divide a vida com você. Mas estou sugerindo que você namore a vida, os amigos, os filhos, o marido, a esposa, o flerte, a paquera. Namore até você mesmo!
Ignore as defesas alheias com jeitinho. Aproxime-se de mansinho e invada algumas almas. Namore alguns, algumas, com toda a doçura com que for capaz! Olhe bem dentro dos olhos deles. Beije as mãos. Diga algo tão desconcertante quanto são os enamorados! Mas diga inteiro, entregue, vendo o outro de verdade!
E transforme o seu relacionamento com um dia de dizer "não" a essa loucura cotidiana que temos nos imposto sem perceber. "Não" aos olhos fechados para o outro! E "sim" ao suspiro gostoso de quem abre os olhos e acorda. Acorda de verdade! Acorda e vê que viver sem namorar é a maior loucura que alguém pode cometer. Chega de loucura! Agora, você e eu somos só doçura!
Namore muito, mas não cometa uma loucura! texto: Rosana Braga